domingo, 14 de março de 2010

A morte de Sansão 2008 (por Vlad Araújo)



SANSÃO

por Vlad Araujo


NAQUELE ALEGRE AMANHECER, nasceu Sansão. Filhote de uma ninhada de seis cachorros, dona Tereza ajudou em seu parto, como sempre fazia com seus gatos, cães. Pelo jeito desajeitado, a aparência forte, seu nome só podia ser Sansão. Mas em contraponto, Sansão era dengoso e espaçoso. Foi criado por vários anos, juntamente com um casal de gatos e sua mãe, Dalila. Curiosa, sua concepção: um dobermann vizinho, no cio, pulou uma tela de 1,5m onde estava Dalila, sua mãe, uma pastor alemão e concebeu Sansão e mais cinco irmãos. Forte e jovem, era elogiado por todos. “Sansão pega a bola!”, “Sansão passa pra casa !”, “Sansão vem comer”, Sansão, Sansão, Sansão...nome pomposo que enchia o vácuo.

O tempo passou...certo dia Sansão amanheceu doente, mal se firmava nas patas, foi levado a uma profissional e após prescrição de alguns remédios, voltou a andar, embora dali pra frente o fizesse somente como um caranguejo, meio de banda, e a passos vacilantes. Alguns meses depois, Sansão adoeceu gravemente. Por duas semanas perdera o apetite, apático ao mundo, permanecia deitado ou sentado, sentia dores, dona Tereza que o arrastava, agasalhava, limpava seu corpo e o espaço que este ocupava, pensou que fosse alguma fratura nas pernas ou costelas, pois ele mal se sentava apenas com a ajuda das duas patas dianteiras, as traseiras, inertes, inválidas em seu quadril. Sansão foi levado novamente a uma profissional que diagnosticou sua morte em breve.

Dona Tereza, que nos treze últimos anos vivera em sua companhia, se desesperou. Levando-o para casa, apenas acompanhou suas últimas horas. E lá estava ela, quando o velho sabujo, nos estertores da morte, apresentou falta de ar, sufocamento e não mais podendo, sucumbiu. Conta dona Tereza que sua amiga, Katy, uma cadela que nos últimos quatro anos passou a lhe fazer companhia na guarda da casa, veio se despedir, deu-lhe uma lambida no rosto e nos olhos úmidos, e assim faleceu Sansão, naquela idade própria dos cachorros que não vivem mais do que quinze anos. E dona tereza, que o trouxe à vida, ajudando no parto, também lhe acariciou e o acompanhou à morte.

NAQUELE TRISTE ENTARDECER, a garagem estava vazia, espaçosa, Katy sua amiga, também estava mais triste. De consolo, a certeza de que Sansão morreu de morte morrida, desígnio de Deus, velhice, e não de morte matada. Sansão foi continuar sua jornada de vida em outras dimensões, outros mundos.

Um comentário:

Unknown disse...

Ao ler seu relato tão detalhista da morte do Sansão, pude perceber quão sensível és...Somente quem viveu um amor assim tão intenso entre os humanos e seus amigos de estimação, sabe enumerar a dor e o vazio que ficam, quando eles partem para continuar sua jornada noutra dimensão! Eu pude sentir e reviver minhas histórias na sua! Que bom que Sansão, partiu porque seu tempo aqui na Terra se findou...eu não tive essa sorte com minha Princesa!!!